Vida De Mulher

Para contar histórias das vidas de mulheres, ninguém melhor que uma mulher. Assim é por aqui.

Explorador

Rosarinho era casada há anos com um médico, o Rui. Casal bem sucedido, economicamente.
No trabalho, ela teve um colega, o Paulo, que começou a seduzi-la. Toda a gente notou. Toda a gente via. E, claro, toda a gente comentava, porque a sabiam casada.
Ela sucumbiu à sedução, porque Paulo era persistente. Não desistia nunca de lhe alimentar a feminilidade, a beleza, a elegância.
Até que Rui descobriu.
Confrontou Rosarinho. Apanhou-a, em flagrante delito, com Paulo.
Rosarinho deixou-os sós, aos dois.
Eles conversaram.

Só mais tarde, depois daquela conversa de homens, Rui contou a Rosarinho a forma como Paulo a via: um porta-moedas, um cartão de crédito.
Só aí ela percebeu quanto dinheiro tinha gasto com Paulo: os conjuntos de camisas de marca que lhe deu (porque ele se queixava do desemprego da mulher, das três crianças para cuidar e gostava de se ver bonito), do dinheiro que lhe emprestou e nunca mais viu (porque a mulher desempregada estava agora à espera da quarta criança), das viagens que lhe pagou para ele ir de férias com a família.
Um porta-moedas, um cartão de crédito.

Ainda depois de saber isto tudo, Rosarinho continuou a sonhar com os romantismos de Paulo, com os passeios à beira-mar, os fins de semana escapados às famílias, os mimos e as meiguices da conquista. Rapidamente conquistada.
Não o viu mais.

O homem internético

Clara começou por conversar com o João no mIRC.
Ele sabia quem ela era, sabia onde trabalhava. Ela não sabia nada dele.
Trocaram muitas conversas, de letras, apenas. Durante algum tempo, ele recusou-se a dar a cara, a sair para conversar à séria.
Clara não percebia esta postura distante, de não rosto, de não toque, de nada.
Até que finalmente, ele arranjou coragem e foi buscá-la para um café.

Ali começou tudo.
Um relacionamento que durou anos.
Mas o distanciamento dele manteve-se. Sempre.
João podia amá-la, pois podia. Mas Clara não se sentia amada. Ela própria não sabia explicar este fenómeno afectivo. O reconhecimento do amor e, ao mesmo tempo, a sensação da total ausência dele.

Não durou.
Depois de vários anos a deixar de sentir, devagarinho, Clara deixou de amar. Totalmente.
De tal forma que, quando terminou a história com João, não custou.
Já não importava se ele amava ou não. Ela sabia que não amava.
Ponto.

A mulher internética

Amélia conheceu o Jorge e apaixonaram-se.
Não tardou, estavam a morar em casa dela.
Divorciada e com um filho, Amélia cedo começou a mostrar as suas inseguranças e os seus medos naquele relacionamento.
Ela não sabia explicar bem, mas sentia um medo terrível, nem ela própria sabia de quê. Tinha várias facetas, que escondia de Jorge. Por seu lado, Jorge tinha uma grande paixão por ela.
Mas Amélia, não se deixava amar.
Enterrava-se na internet, horas a fio, enquanto Jorge ficava pendurado, lá em casa, sem usufruir da presença dela.
Rapidamente, Amélia começou a sair à noite, sem o Jorge. Ele ficava em casa, ou ia dar uma volta.
Jorge apercebeu-se que ela tinha uma vida dupla, ou tripla. Que engatava através da net, que se sentia bem naquele jogo de sedução do "esconde-esconde" que a net, e a anonimidade, lhe permitiam.
Amélia só sabia que sentia aquela inquietação que não lhe permitia pertencer a alguém.
Até que terminou o relacionamento com ele, sem medir consequências.

Hoje, Amélia não tem o assunto resolvido dentro dela. Ainda mantém Jorge no pensamento e não compreende porque o mandou embora.
Só que, como não mediu consequências, Jorge foi embora, farto de tanto desamor e desatenção. De tanta inquietação por explicar, de tanta insegurança e ciúme infundado.
Jorge acabou por fugir daquela espiral negativa, para não mais voltar.
E Amélia está só. Com a internet e o sexo virtual. Com a insegurança. Com o mesmo medo, que não chegou a resolver.