Vida De Mulher

Para contar histórias das vidas de mulheres, ninguém melhor que uma mulher. Assim é por aqui.

Os homens gostam tanto de mim!

Márcia é solteira, anda na casa dos trinta.
Sonha ter um homem para ela. Só lhe aparecem homens que já têm outra pessoa. E ela aceita-os, na vida dela.
Cada um deles, declara-se-lhe apaixonado [mas sempre com outra mulher por detrás - que conforto!].
Márcia aceita-os, porque lhe alimenta a auto-estima.
Não quer estar só, então procura sistematicamente mais e mais homens. Continua a procurar estar com homens que têm uma mulher na vida deles. É como se , desta maneira, ela fosse superior à mulher que têm. Liga-lhes, mesmo. Telefona-lhes em busca de "um café".

- Ele tem namorada (ou mulher), mas vem sempre ter comigo! - diz, como se estes encontros fossem sinal de amor profundo; contrariado, logo, trágico e romântico.

Depois, sonha com relacionamentos com estes homens; homens que não se comprometem com ela, que não a amam, porque relacionamento já têm com outra mulher. Querem mais sexo e sempre que querem, procuram-na. E ela aceita, outra e outra vez.
Na opinião dela, todos têm uma grande "queda" por ela. Uma "panca", como se ela fosse uma super sedutora.
E Márcia não é.
Na realidade, ela é apenas o que sobra, é o espaço vazio destes homens, preenchido pela presença da mulheres que compartem a vida com eles.
Márcia apanha com as sobras.
E continua a achar que todos eles têm uma grande "panca" por ela.

Separação

Mónica separou-se do Luís, depois de vários anos de casamento.
Têm três filhos.

Bonita e inteligente, Mónica não se considera assim - nem bonita, nem inteligente.
Ela e o Luís moram em casas diferentes.
Juntam-se, aos fins de semana, para estarem ambos com os filhos, que moram com ela.

Luís continua a querê-la. Leva-lhe flores, tenta seduzi-la.
De início, ela ficou confusa com esta forma de amar dele.
Aceitava as flores, até lhe apetecia estar com ele. Não percebia esta dualidade de querer estar sem ele e, ao mesmo tempo, querer estar com ele.
Claro, mais tarde ou mais cedo, repetiu-se o sexo de antigamente. Aliás, o sexo até ficou melhor.
Mais confusa ficou.

Luís continua a ser o mesmo de sempre. Viciado em trabalho.
Mónica percebeu finalmente que uma pessoa não muda outra. Ou se ama como é e se aceita, ou não vale a pena o esforço.
Só aqui percebeu que quis sexo com ele, pelo simples sexo. Mais nada.
Deixou de ficar confusa e avança, agora, confiante, pela vida fora.
Dentro dela, o Luís está arrumado.
Ele é, definitivamente, o ex.
Mesmo que volte a haver sexo...

Paixão

Ana sempre esteve apaixonada.
Começou com seis anos, apaixonadíssima por um colega da escola que sempre a desprezou. Durou até aos doze anos esta paixão. Pelo meio, houve outras paixões ao longe. Pequenas explosões, que desapareciam, conforme apareciam. Coisas rápidas.
Aos treze, nova paixão. Durou até aos quinze.
Aos quinze, a grande paixão adolescente.
Todas elas completamente platónicas.
Aos dezassete, o primeiro beijo que ela não gostou. Não gostava dele e não gostou do beijo.
Aos dezoito, a primeira experiência sexual. Gostou. Mas pesava-lhe a culpa de ter feito sexo sem casamento.
Depois, um namorado mais a sério. Casou com ele. Divorciou-se dois anos depois.
Sempre apaixonada, entre amores platónicos e outros apenas físicos, foi avançando na idade e na vida.
Sempre cheia de relacionamentos, uns atrás dos outros, homens não lhe faltavam.
Até que, chegou uma altura que já não fazia sentido ter, simplesmente, um homem atrás do outro.
Parou.
Olhou para trás e disse "basta!"


Ana opta por estar só, agora. Continuam a fazer fila atrás dela, os homens - solteiros, casados, divorciados.
Ela ri-se da vida, ri-se dela própria.
E continua só.

Quantos anos tem, nesta altura? Não quis dizer, porque se sente igual a si própria, como se os anos não tivessem passado por ela.
A diferença, diz ela, é que agora tem apenas os homens que quer mesmo. Não aceita os que a querem a ela, só porque sim. É selectiva.


Pessoalmente, fiquei a achar que ainda sonha com o príncipe encantado.

O marinheiro

Linda a Luísa!
Mulher entre os 50 e os 60 anos, olhos azuis, vivos e vibrantes. Morena.
Casada desde nova com o Joel. Ele está quase sempre fora, navega.

Teve uma vida torta ao lado deste homem, que, desde sempre, casado com ela e tudo, a despreza, a maltrata e a humilha.
Luísa atura isto tudo, até porque acha, bem dentro de si, que merece ser maltratada, humilhada, desprezada. Joel teve muitas outras mulheres na vida, inclusivamente, daquelas a quem se paga.
E Luísa é tão linda!
Têm dois filhos, a Marta e o Miguel. Os dois com mais de vinte anos.

Está agora a tentar o divórcio. Quando ele não está, ela sossega. Quando ele está, ela não deixa de lhe fazer as refeições, de lhe tratar da roupa. E recebe sempre um ou outro insulto, uma divagação meia louca de Joel, principalmente quando ele bebe demais - o que é frequente. Quer vê-lo de casa para fora. Não sabe como fazê-lo, porque teme ficar sem dinheiro para viver.

Dona de casa a vida inteira, tem sido o ordenado dele que sempre a sustentou.
E agora, se ele achar que ela não pode pedir uma pensão de alimentos digna?
Teme o futuro e teme o presente.
Joel parece não a amar, mas não a quer largar.

30 anos de amor... ou nem por isso.

Cristina casou com Carlos tinha ela 25 anos. Ele 20. Tinham-se conhecido um ano e meio antes.
Apaixonadíssimos, lutaram que nem feras por este amor contrariado, pela parte da família dele.
Depois de casados, Cristina foi vendo como Carlos não era bem como ela pensava. Mas, nasceu-lhes a primeira filha. Foi dando para suportar, até porque com eles viviam também os pais dela.
Cristina viveu anos entre os pais e o marido e a filha, tentando gerir as emoções familiares.
Fê-lo durante mais de trinta anos.
Trinta e tal anos de casamento, quando ela finalmente viu que Carlos nunca lhe fora fiel. Dava umas curvas por fora, desde que tinham casado. Até à última "curva".
Tinha Cristina 60 anos quando Carlos saíu de casa, para ir morar com outra mulher.
Hoje, Cristina vive sozinha, vê o mundo e os amores com azedume e acha-se, como sempre se achou, "mulher de um homem só", para toda a vida.
Nunca percebeu que aquele homem não foi dela.
Para ser mulher de um homem só, teria de lhe ter aparecido um homem que fosse, também, só dela.

O sedutor nato

Catarina combinara encontrar-se com António.
Já tinham saído para beber café, para conversar. Estavam naquela fase de início de qualquer coisa.
Ela vestia como sempre, informalmente. Umas calças de ganga, uma camisa branca e, ao pescoço, uma fita preta, ajustada à pele com dois nós e com as pontas a caírem-lhe sobre o peito.

Cumprimentaram-se com dois beijos nas faces.

António disse-lhe:
- Então e esse atacador ao pescoço serve para quê?
O romance acabou ali. O relacionamento continuou, até ruir por completo, meses depois.

Começando

A vida de cada mulher é recheada de emoção e aventura.
Este espaço será, ao longo do tempo, o resultado de situações vividas por muitas mulheres que vou conhecendo, sempre vistas a partir de uma perspectiva feminina: a minha.
Sou, apenas, uma mulher.