Amargura
A Guida está na casa dos quarenta. Lá no trabalho, é super eficiente.
Solteira, muitas vezes vestida de preto. Tem muitas flutuações de humor, zanga-se com facilidade com coisas pequenas, é amarga. Responde torto e, quando zangada, discute até ficar encarnada.
Consta que, há uns anos, Guida esteve perdida de amores; um amor platónico, um amor por um homem que nunca foi namorado dela, nunca teve nada com ela.
Um dia, ele morreu.
A Guida fez luto, como se aquele homem fosse marido, companheiro, namorado. Ele simplesmente existia, não lhe era nada, não sentia nada por ela.
Os homens mais brejeiros, colegas de trabalho, dizem que ela tem "mau feitio" por ser uma das tais mulheres "mal fodidas" (este é o termo que usam).
Prefiro pensar - e sei - que isso vai muito mais além de ser ou não mal fodida. Uma mulher mal amada, sim. Sobretudo, mal amada por ela própria.
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