Vida De Mulher

Para contar histórias das vidas de mulheres, ninguém melhor que uma mulher. Assim é por aqui.

O homem internético

Clara começou por conversar com o João no mIRC.
Ele sabia quem ela era, sabia onde trabalhava. Ela não sabia nada dele.
Trocaram muitas conversas, de letras, apenas. Durante algum tempo, ele recusou-se a dar a cara, a sair para conversar à séria.
Clara não percebia esta postura distante, de não rosto, de não toque, de nada.
Até que finalmente, ele arranjou coragem e foi buscá-la para um café.

Ali começou tudo.
Um relacionamento que durou anos.
Mas o distanciamento dele manteve-se. Sempre.
João podia amá-la, pois podia. Mas Clara não se sentia amada. Ela própria não sabia explicar este fenómeno afectivo. O reconhecimento do amor e, ao mesmo tempo, a sensação da total ausência dele.

Não durou.
Depois de vários anos a deixar de sentir, devagarinho, Clara deixou de amar. Totalmente.
De tal forma que, quando terminou a história com João, não custou.
Já não importava se ele amava ou não. Ela sabia que não amava.
Ponto.