O tesouro
Guardava dentro de si um tesouro imenso.
Mas não sabia como partilhá-lo.
Vanda, mulher experiente, nos seus quarentas.
Não se sentia desejada, ou querida. E, no entanto, era-o.
Já tinha passado por tanto! Vivido tanto!
Agora, Vanda declarava-se cansada. Não que ela parecesse estar nos quarentas. Tinha um rosto e uma postura de menina. Atraía os homens sem saber como. Vinham-lhe ter às mãos, mesmo quando ela decidia que "não queria homem nenhum".
Era aquele rosto de menina, um certo ar travesso que nos últimos tempos se lhe suavizava, que atraía.
Decidira agora estar quieta. Parada no meio do furacão que era a sua vida. Queria sossego, dizia.
Acabava por parar no meio de sentimentos e sensações que nunca tivera.
Encontrara uma tristeza que nunca tinha visto. Sabia que estava dentro dela. Nunca tinha tido, porém, a coragem de a olhar de frente. Essa tristeza! E nada tinha a ver com os homens (mas também!).
Era uma tristeza, um desalento. Não que fosse infeliz. Não se achava infeliz.
Vanda estava perdida, nesta fase da sua vida de mulher.
Vanda não se encontrava em nenhum lugar, não pertencia a nenhum sítio. Não encontrara raízes.
No fundo, era aquele seu ar de menina que prevalecia. Queria que tomassem conta dela.
Reduzir a actividade, aumentar a passividade.
E que tomassem conta dela.
Aos 40.